terça-feira, 20 de novembro de 2012

Penteadeira

| Penteadeira |


Meus segredos estavam naquele espelho sobreposto à penteadeira...
Minha infância estampada na penteadeira de canto, de talha limpa, cunhos simétricos, gavetas curvas e pinos retos. Parecia que falava, tal a imponência exercida ao quarto...

Os móveis restante, prestavam-lhe reverências, e eu caminhava amedrontado em corredor sombrio de casa alta, com pouca idade, num fitar em sentido longitudinal, em pronta corrida matinal... Meu instinto criança, revelava a lembrança que o mogno cristal me dotava o peito, sem faltar ao respeito de um dia tê-la feito minha.

Entreolhava em fresta porta, as meninotas a transarem cabelos, negros, loiros, vermelhos ou rubis, tom de orvalho a cair no soalho, e meu olhar em hipnose, me deixava em franca glória aos encantos gravados em seu espelho...
Voltava e buscava um resto de imagem sufocada entre seus reflexos brilhantes que deixava em mim, em sonho juvenil, bem mais para infantil...

Em outros lados também, via o cetim dobrado ao chão, das cortinas vivas que então, sufocavam o cômodo inteiro, do quarto ao banheiro, em longos e espaçados gomos, nos presenteando como floresta ao mais sutil brinquedo criança, na bagunça do brincar...
E a cozinha, escorada a da vizinha, tia minha, perdida no tempo e protegida pelo além. Me lembra também, os patinhos nenéns, que corriam pela varanda afora, em sorriso vasto de mim, delirando assim, em sufocar alegria de memória que sorria sem saber se teria um dia fim...

E o tempo guardou as lembranças de infância, encantadas e vertidas em montes...
Ficaram pra mim, em frascos pequenos, em potes morenos, em blush, talco ou pó, em devotada escova que alisava seus cabelos negros então, e agora mais alvos, que foram quase sempre coadjuvantes de beleza que era trocada diáriamente pelo espelho de minha penteadeira...
Hoje recostada, coberta, empoeirada, sinto a lembrança ceifada pelo tempo que correu, e seu espelho prendeu aquela juventude, em troca do reflexo que deu...

Procuro pelo potes e frascos, e tateio o vão torneado do mogno dourado, e encontro apenas momentos, de um tempo falido, mas não esquecido, que levou a meninice de fontes de tolices, e deixou em minhas mãos enrugadas, as marcas de um dia ter trocado com o reflexo do meu ontem.

Aquela penteadeira... O meu reflexo que ficou na poeira...

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Olá pessoal!!!
Espero que tenham gostado do relato da minha infância. Valeu muitão!!
Fiquem com Deus e um grande abraço!!!

Beto Ribeiro.
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